J. Norberto Pires tinha como missão construir, gerir e dinamizar o iParque, tendo iniciado funções em agosto de 2007, quando o parque era uma simples ideia. Hoje o iParque já realizou a sua 1ª fase (30 ha), construiu o seu Business Center (Vinci) e planeou e projetou a sua aceleradora de empresas (Tesla). O financiamento do iParque decorreu do QREN, programa INOV.C, com uma taxa de comparticipação de 90% e um investimento total que ronda os 22 milhões de euros. A primeira fase é constituída por 15 empresas privadas, todas elas com fortes ligações a centros de saber e universidades.
Abaixo, reportagem da TV-Ciência sobre a apresentação do iParque em 2010, numa sessão que contou com a presença da Secretária de Estado da Ciência (Leonor Parreira) e do Secretário de Estado da Inovação (Carlos Oliveira).
Breve resumo de estratégia e objetivos
Coimbra é uma cidade especial. Tem uma excelente qualidade de vida, sendo uma cidade tranquila, limpa, com boas acessibilidades, e bons serviços. A cidade vive ainda muito da sua Universidade, e é através dela que projeta grande parte da sua influência. É talvez a cidade Portuguesa que mais se confunde com a sua Universidade, fazendo da vida académica uma parte significativa da vida da cidade, a qual se organiza para proporcionar à comunidade académica os serviços necessários para a sua atividade. Coimbra é, antes de mais, uma cidade universitária por excelência.
Apesar de um espírito próprio, algo conservador e aristocrático, a cidade de Coimbra revela excelentes potencialidades que devem ser exploradas.
Tem uma universidade clássica que revela uma boa capacidade de adaptação às mudanças e desafios que caracterizam este mundo globalizado. Precisa, no entanto, de se agilizar, precisa de levantar a cabeça e olhar em volta para o espaço europeu e medir-se com as melhores universidades europeias, estabelecendo parcerias que abranjam o ensino, a organização e a investigação.
O tecido industrial tradicional existente em Coimbra, essencialmente baseado nos têxteis, cerâmica e indústria alimentar, desapareceu num curto período de tempo, devido às dificuldades em competir num mundo global. No entanto, as TIC, os serviços e as áreas ligadas à saúde tiveram um desenvolvimento muito significativo. E verificou-se um fenómeno muito interessante e encorajador. Coimbra foi capaz de gerar e acarinhar um conjunto de novas empresas, algumas delas de boa dimensão, tendo por base a universidade e a qualidade da sua atividade de I&D. Demonstrou com isso a sua capacidade de transformar boas ideias em iniciativas empresariais, mas acima de tudo demonstrou que percebe, pelo menos em alguns sectores, o valor do I&D de risco e a sua capacidade de gerar valor. É a perceção desta realidade que vai mudar a face da cidade. Tenho a certeza disso.
Há três mensagens fortes que é necessário ser capaz de transmitir para que se possam desenvolver de forma eficaz as ações que as tornem consequentes e permitam que gerem resultados consistentes.
- Licença para errar: é preciso dizer com clareza às pessoas que o sucesso só aparece depois de muito insucessos. Falhar faz parte da atividade empreendedora, faz parte de uma cultura responsável que não rejeita o risco, nem estigmatiza a falha, antes as considera como componentes essenciais de um processo de desenvolvimento.
- Estímulo à iniciativa: na escola, na investigação e nas empresas, os ganhos resultam da atividade daqueles que ultrapassaram expectativas, que fizeram para além do que lhes era solicitado, daqueles que quiseram saber mais, daqueles que foram mais criativos, daqueles que souberam tirar partido da sua formação para produzir melhor, mais barato e de forma mais eficiente.
- Cultura de mérito: o valor do trabalho e do esforço individual é crucial. É fundamental que todos saibam que fazem parte de uma meritocracia avançada, isto é, de uma sociedade que premeia tendo por base os resultados que cada um apresenta, colocando o foco nas ações que tenham como consequência conquistas colectivas e civilizacionais
Coimbra tem condições para desenvolver as ações que permitam colocar estes três desafios em marcha. Isso significa ser capaz de formar pessoas criativas, com pelo menos razoáveis capacidades empreendedoras, habituadas a estudar e trabalhar para ter sucesso. Pessoas que não temem o risco, antes o têm como parte do seu modo de vida.
É neste cenário que faz todo o sentido um Parque de Ciência e Tecnologia na cidade universitária de Coimbra. Foi assim que foi organizado, tendo por base a realidade da cidade, as suas boas iniciativas já no terreno e as suas potencialidades. Foi pensado com os seguintes objetivos genéricos:
- Ser o catalisador do desenvolvimento económico da região;
- Promover o desenvolvimento de novas empresas baseadas em conhecimento (e não só em tecnologia), incentivando a transferência de saber entre centros de conhecimento e empresas através de projetos de I&D em consórcio;
- Promover ou contribuir para instalação de iniciativas empresariais relevantes que possam alavancar o desenvolvimento rápido e sustentável de áreas identificadas como estratégicas.
Tudo isto tendo por base uma estratégia mista que reconhece que precisamos, primeiro, de demonstrar capacidade, para depois sermos atrativos para iniciativas empresariais, necessariamente exteriores à região, que apostam nas nossas capacidades. Essa estratégia mista engloba a estratégia de incubação e a estratégia de atração:
- Incubação: significa apostar na capacidade de fazer emergir ideias de negócio com base em conhecimento gerado na região, apoiá-las, constituindo o suporte necessário para que se desenvolvam e se transformem em empresas de sucesso (incubação de 1ª fase). Mas também perceber que estas empresas, pelas suas características muito ligados à I&D, a alguma inexperiência própria do tipo de promotores, bem como a um mercado globalizado altamente competitivo, precisam de suporte na fase posterior à incubação (aceleração de empresas, incubação de 2ª fase) para que cresçam mais rapidamente e se tornem fortes.
- Atração: demonstrada a nossa capacidade de transferência de tecnologia e conhecimento, a capacidade de gerar ideias de negócio e empresas de sucesso, a capacidade de fazer produtos competitivos no mercado global, seremos então atrativos para investimentos de fora da região (incluindo investimento direto estrangeiro – IDE).
O iParque planeou e construiu um espaço totalmente infraestruturado que inclui locais para a instalação de empresas, espaços verdes e de lazer, espaço para serviços e para habitação, definindo um novo conceito de Parque de Ciência e Tecnologia: um sítio que tem vida todo o dia, onde é possível trabalhar, praticar desporto, passear e habitar, disponibilizando os serviços necessários à atividade criativa e empreendedora.
Planeou um Centro de Negócios (Edifício VINCI) pensado para servir as empresas e as suas necessidades (Figura 19 e 20).
Figura 19 – Resumo das características do Edifício VINCI.
Figura 20 – Centro de Negócios VINCI.
Planeou uma Aceleradora de Empresas (Edifício TESLA) pensada para acolher empresas em fase de crescimento, no período posterior à incubação (Figura 21).
Figura 21 – Resumo das características do Edifício TESLA.
Ambos os edifícios anteriormente mencionados chegaram à fase de concurso público – o primeiro foi construído e é hoje o edifício sede do iParque, o 2º não chegou a ser construído na sequência da minha saída do iParque -, estando a primeira fase do parque (correspondente a 30 ha, Figura 22) já construída e tendo-se iniciado já – e praticamente terminado – o procedimento de construção das instalações de várias empresas; Innovnano (Grupo CUF), Centro Tecnológico da Cerâmica e do Vidro, Hospital SANFIL, Forum Informática, BetterSoft, MedicineONE, CoolHeaven, AIRC e RCSoft são algumas das empresas com planos de instalação já definidos. Seguir-se-á uma 2ª fase com mais 70 ha (ver figuras 23 e 24) que permitirá atingir os objetivos propostos.
Figura 22 – Primeira fase do iParque indicando a localização dos seus serviços e distribuição funcional.
Figura 23 – iParque na sua versão final (100 ha), indicando a zona habitacional (a noroeste do parque).
Figura 24 – Planeamento de construção do iParque.
O iParque é uma aposta arriscada, mas consciente e muito pensada. É uma forma de sermos consequentes com a capacidade que desenvolvemos. Uma capacidade que tem de ser colocada ao serviço da sociedade gerando efeitos económicos relevantes.
Com o iParque pretendemos fixar as boas iniciativas que resultaram da investigação desenvolvida na Universidade e Centros de Investigação. Mas também da capacidade empreendedora de muitos dos investigadores, alunos e professores, ou de promotores que souberam rodear-se dessas pessoas. É preciso dar resposta a essas empresas, ajudando a que se fixem em Coimbra e cresçam rapidamente.
Mas com o iParque pretendemos também atrair investimento de qualidade vindo de fora da região, preferencialmente de fora do país. Não estamos interessados em todo e qualquer investimento, mas tão só naquele que aposta na qualidade da nossa I&D e dos recursos humanos que formos capazes de desenvolver. Sabemos que esse objectivo será uma consequência daquilo que demonstrarmos ser capazes. Se formos eficazes, como temos sido, na criação de novas empresas, no seu acompanhamento para que resistam aos primeiros tempos (incubação), no incentivo ao seu crescimento (aceleração) e na oferta de condições para que desenvolvam a sua atividade em colaboração com centros de I&D e universidades (parques de ciência e tecnologia), então seremos uma mais-valia para aqueles que procuram locais adaptados a empresas que têm por base o conhecimento. Isto é, demonstrada a nossa capacidade empreendedora, de gerar mais-valias económicas a partir da transferência de tecnologia e de formar recursos humanos criativos e empreendedores, passaremos então a ser mais atrativos para o investimento estrangeiro. Mas também aí, repito, precisamos de ser cuidadosos e seletivos. Não queremos todo e qualquer investimento estrangeiro. Precisamos essencialmente daqueles que investem tendo como objetivo utilizar a qualidade dos nossos recursos humanos, para quem constituímos uma vantagem competitiva, porque identificam os nossos sucessos na transformação de conhecimento em ideias de negócio e em empresas, que reconhecem a nossa capacidade criativa. Esse é o investimento que cria mais-valias e nos faz progredir. Não precisamos do investimento que tem como único objectivo salários baixos ou pretende essencialmente tirar vantagem de eventuais incentivos financeiros à instalação.
A cidade do conhecimento tem de ser empreendedora. Tem de se medir pela qualidade da sua investigação, mas também do seu ensino e pelo impacto que essas atividades têm na criação de riqueza, emprego, oportunidades, modernização, investimento e melhoria de qualidade de vida.
Coimbra tem condições para ser essa cidade, fazendo-o passo-a-passo, sem atalhos. Uma cidade que aposta no conhecimento, que é empreendedora e que tem licença para errar.
Nota: Consultar o site do iParque em www.coimbraiParque.pt para obter informação (incluindo vídeos e fotos) sobre o seu estado de desenvolvimento atual.
Videos:
Brochura do iParque: http://www.coimbraiparque.pt/index.php?option=com_docman&task=doc_download&gid=5&Itemid=32&lang=pt